terça-feira, 17 de agosto de 2010

FILOSOFIA


Santo Agostinho: A fé reabilita a razão


Oficialmente, o cristianismo triunfa em 313, quando o imperador Constantino (c. 280-337), pelo edito de Milão, concede liberdade de culto aos cristãos. Na prática, porém, o cristianismo, com seus fiéis solidamente organizados sob a autoridade dos padres, dos bispos e do papa, já possuía uma instituição bastante influente: a Igreja (do grego ekklesía, isto é, “assembléia”).
Mas a elevação formal da Igreja de Roma a centro da cristandade acirrou também a disputa entre as interpretações divergentes, da mensagem de Jesus. No plano político, esse confronto de opiniões seria resolvido no Concílio de Nicéia (325), convocado por Constantino, e em outras reuniões do gênero, em que se estabeleceu a ortodoxia (literalmente, “opinião correta”) da doutrina cristã. Desse processo – do qual fizeram parte violências contra os considerados hereges – resultou a Igreja Católica, que em grego significa Igreja universal.
A consolidação da ortodoxia exige, no entanto, mais do que um ato de poder que a decrete. Ela também precisa ser convincente, apresentando-se não apenas como revelação mas também como resultado de raciocínios. A filosofia patrística (dos santos padres) representa, em algumas de suas vertentes, esse esforço de munir a fé de argumentos racionais. Dentre os santos padres, Santo Agostinho é quem leva mais longe a conciliação entre a fé e a razão: elabora a “filosofia cristã, como ele a chamaria.


O verbo em cada um


A vida de Santo Agostinho, minuciosamente narrada por ele próprio em Confissões, é quase uma demonstração, na prática, de seu pensamento: experimentou o ceticismo quanto ao conhecimento, sofreu o abismo do homem em pecado, reencontrou a esperança na graça divina, conheceu a felicidade e a certeza da verdade na fé.
Agostinho nasceu em 354 em Tagaste, na província romana de Numídia, na atual Argélia. Educou-se em Cartago, onde se tornou professor de retórica. Mudou-se para Roma e, depois, para Milão. Durante esse período, mostrou grande inquietação intelectual: leu Cícero e uma versão latina de Categorias, de Aristóteles. Em seguida aderiu ao maniqueísmo, seita fundada pelo sábio persa Mani (c. 215-276), baseado na crença de dois princípios absolutos que regeriam o mundo: o Bem e o Mal.
Mais tarde desiludidos com os maniqueus, conheceu as concepções da Academia platônica, tomadas por um profundo ceticismo. Leu também Plotino, mas a influência decisiva veio de Santo Ambrósio (c. 340-397), bispo de Milão, que indicaria a Agostinho o caminho da fé. Por fim, converteu-se em 386. Retirou-se para sua terra natal e escreveu obras como “Contra os acadêmicos”, “Da Ordem”, “De Magistro”, “Confissões da Trindade” e “A Cidade de Deus”.
O século IV e V, em que Agostinho vive, são uma época em que a filosofia, talvez com a exceção do neoplatonismo de Plotino, perdeu a confiança na razão. Mergulhada no ceticismo, ela duvida da possibilidade do conhecimento e da verdade. Cabe então a Agostinho restaurar a certeza da razão, e isso, paradoxalmente, por meio da fé. Para ele, o conhecimento da verdade é um fato, como provam as demonstrações matemáticas e lógicas, irrefutáveis. Resta então saber como tal conhecimento é possível, qual o seu aval. O homem e seu intelecto, mutáveis e perecíveis, não podem ser os avalistas do conhecimento, pois a verdade deve ser eterna. Assim, a verdade só pode ser assegurada por algo que se coloque acima dos homens e das coisas: Deus. Se a razão, na busca de sua certeza depara com a fé de Deus, é também a fé que permite resgatar a dignidade da razão: “Compreender para crer, crer para compreender”, escreve ele.
Agostinho situa-se na passagem do mundo greco-romano para a Idade Média, cujo valor preponderante é o cristianismo. De certo modo, ele próprio representa essa passagem: nutriu-se dos resquícios da cultura helenística para depois converter-se à fé cristã. Ao romper com o passado, introduziu uma noção de Deus alheia à filosofia de até então, Agostinho o faz de um modo que caracteriza uma certa continuidade da tradição filosófica.
A rigor, essa continuidade é a confiança na razão, sem o que a filosofia nem se quer existiria. Agostinho esforça-se por reabilitar a razão diante da fé. Ele serviria ao menos (mas não só isso) para demonstrar a necessidade do credo.
Traduzindo a idéia estóica de que tudo participa do logos, que é corpório, Agostinho afirma que o conhecimento é dado pela presença íntima, em cada homem, do verbo feito carne (Cristo), cuja verdade e certeza o ser humano expressa por meio das palavras.

As cidades, dos homens e de Deus


Para Agostinho, Deus, como o uno de Plotino é o transcendente absoluto, indizível, pois nada se compara à sua divina perfeição. Por isso, sua teologia (conhecimento a respeito de Deus) é de caráter muito mais negativo do que afirmativo: “Se não podeis”, escreve, “compreender agora o que Deus é, compreendei ao menos o que Ele não é (...)”.
Insondável, acima da razão humana, Deus é único mas também três: Pai é a essência divina indizível; Filho é o Verbo e o Logos; Espírito Santo é o amor divino que cria tudo que existe. A trindade assemelha-se em parte, às três hipóteses idealizadas por Plotino: o próprio uno, que é absolutamente transcendente; a Inteligência, que torna inteligíveis as coisas; e a Alma, que dá vida aos seres.
Feito à imagem e semelhança de Deus, o homem reproduz nele mesmo a trindade: a existência (Pai), o conhecimento (Filho) e a vontade (Espírito Santo). A ordem do mundo é bela e boa, pois é criação de Deus. Isso significa que o mal propriamente não existe: é apenas o afastamento em relação Deus, o que no homem se manifesta como pecado.
O pecado é a subversão da bela e boa ordem criada por Deus, e aparece, por exemplo, quando a alma se torna serva do corpo. O livre-arbítrio, a vontade humana, é importante para buscar a salvação. Nesse sentido, para Agostinho, a bondade e a caridade não são meios de salvação, pois tais atos são resultado da eleição divina. Nesse aspecto, o pensamento agostiniano é radicalmente contrário à tradição filosófica, que via na salvação (ou na felicidade) o resultado do esforço do homem, pela filosofia. O Deus dos filósofos não é o Deus cristão, e, se Agostinho percorre os caminhos da filosofia, é para reafirmar com maior vigor sua fé na onipotência de Deus.
A história da humanidade é a história do pecado do homem, por livre-arbítrio, e a salvação de alguns predestinados, pela graça divina. Os que pecam formam a cidade terrestre, que é o mundo dos homens. Essa cidade não é necessariamente má, mas, governada pela vontade humana, tende para o pecado e é de tempos em tempos castigada por Deus – como foi o caso, por exemplo, do dilúvio universal. Agostinho propõe assim uma filosofia da história: a finalidade da história, que coincide com seu fim, é a vitória definitiva da cidade de Deus, com o retorno do Messias e o Juízo Final.


Coleção: Os Pensadores. História da Filosofia. Editora Nova Cultural – SP – 1999.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Texto: Introdução ao pensamento filosófico

O que é Filosofia?



A coruja, Ave de Minerva, é o símbolo da Filosofia. O filósofo Hegel escreveu que, assim como a coruja levanta vôo ao anoitecer, também a Filosofia e os grandes filósofos surgem em momentos em que a sociedade humana começa a anoitecer, a entrar em crise...


No seu sentido mais comum, o substantivo filosofia ou o verbo filosofar tem a ver com pensamento ou com o ato de pensar. Filosofar é pensar sobre o que nos acontece, sobre o sentido do que nos acontece ou sobre o significado da vida humana. Alguns dizem que se tem uma “filosofia de vida”. Mas este significado do termo certamente é muito amplo e vago. Há um sentido menos comum, em que filosofar significa saber viver com sabedoria, de acordo com uma doutrina, com uma Filosofia. Assim há, por exemplo, sabedorias diferentes daquelas que conhecemos no mundo ocidental, como as dos sábios orientais Confúcio e Lao Tsé (China), Buda (Índia) e Zaratustra (Pérsia), mas as suas doutrinas ainda estão vinculadas à religião, e não caracterizadas pelo uso da razão, pela racionalidade.

Existe, porém, um sentido mais específico e preciso de filosofar: procurar e/ou encontrar a verdade por meio de uma atividade racional. E a gente encontra a verdade porque precisa e deseja sabê-la. E a verdade é necessária para viver. Mas nem todas as perguntas que fazemos são perguntas filosóficas, como nem todas as respostas são respostas filosóficas. Não é “filosófico” saber: “que dia é hoje?”, mas é filosófico perguntar: “o que é o tempo?” O que é a verdade? O que é a mentira? O que é a liberdade? O que é a razão? São todas perguntas filosóficas. E sabemos que nem todos estão acostumados a fazê-las e tampouco consideram que sejam perguntas importantes.



A ATITUDE FILOSÓFICA


Podemos dizer que filosofar é ter uma “atitude filosófica”. Mesmo que digamos que “de filósofo e louco todo mundo tem um pouco”, de fato são poucos os que têm esta atitude, exigindo-se para isso o conhecimento dos textos da História da Filosofia e, principalmente, a criação do hábito de pensar de maneira rigorosa e crítica.

Falamos, portanto, da Filosofia que quebra com o nosso saber prático do dia a dia, e que nem sempre nos agrada, pois à primeira vista parece ser perda de tempo ou incômodo exagerado com as coisas, deixando-nos, quem sabe, angustiados demais, para além do conveniente.

O filósofo pode parecer alguém desligado da realidade, vivendo nas nuvens, em coisas abstratas, distraído, perdido ou aparentemente alheio aos problemas concretos da vida. Como exemplo desta visão preconceituosa da filosofia, temos a história do antigo sábio grego, chamado Tales, que, ao olhar para o céu a fim de entender os movimentos das estrelas, acabou caindo num poço. Ou com um ditado popular italiano bastante conhecido: “a Filosofia é a ciência com a qual ou sem a qual tudo continua tal e qual!”.

É claro que tudo isso não é verdade. O filósofo, ao contrário de ser uma pessoa distante do mundo, preocupa-se a fundo com suas questões e não se contenta com as coisas óbvias. Ele é inimigo mortal de qualquer fanatismo, de qualquer dogmatismo (crença não explicada). Todo filósofo é um porta-voz consciente de um povo.

Filósofo não inventa a realidade, mas interpreta a realidade em que vive. Assim, podemos afirmar que toda filosofia é e deve ser radical, pois não se contenta em ficar na superfície das coisas, mas procura ir às raízes (por isso, radical), busca desvendar os porquês das coisas.

O filósofo faz perguntas do tipo: o que é a realidade? Como a realidade é? Por que a realidade é assim? Ele procura a essência (aquilo que torna uma coisa aquilo que ela é), o significado e a origem do que quer conhecer.

O filósofo reflete. Falar de reflexão lembra o espelho no qual a gente se reflete. Pois bem: filosofar é refletir. É um movimento de volta sobre si mesmo. Refletir é pensar o próprio pensamento. É esta capacidade humana que nos distingue dos seres animais.

De toda forma, quem prefere uma vida tranquila, uma vida mais grudada ao cotidiano, ao terra-a-terra, fica longe da Filosofia. E quem quer alcançar maior profundidade, quem gosta de chegar às raízes, ser mais radical, vai precisar dela, mesmo que isso não lhe venha a trazer certezas ou tranquilidade.

O filósofo é quem assume correr o risco de viver mais inseguro, ter cada vez mais perguntas, e não respostas. Esta atitude filosófica deve ser claramente separada da mera opinião ou dos gostos pessoais. Não é filosófico dizer “eu acho que”, “eu gosto de”... A filosofia estabeleceu-se como saber lógico, rigoroso, que quebra o senso comum, ou seja, que não se contenta com aquilo que nos é contado sem explicações, sem sabermos os porquês.


ESPECIFICIDADE DO CONHECIMENTO FILOSÓFICO


Filosofia é o esforço racional para tentar compreender o Universo. Assim, podemos perceber a diferença entre religião e filosofia.

A religião tem por base a fé, pela qual se aceitam verdades não demonstráveis e que tantos consideram até mesmo irracionais. Claro que isso não significa que, sob todos os pontos de vista, as verdades de fé não sejam aceitáveis. Até mesmo alguns filósofos, como São Tomás de Aquino, na Idade Média, tentou mostrar que fé e razão não eram incompatíveis. Já a filosofia, como lemos antes, preocupa-se com o conhecimento racional, com a origem (raiz), a ética, a política, a estética, as quais estudaremos mais tarde.

Assim, a filosofia é reflexão, é crítica e é análise. Isso não quer dizer que ciência e filosofia são a mesma coisa. As ciências estudam “o quê” e o “como” dos fenômenos, enquanto a filosofia estuda o “porquê” e o “que é”.




OS GREGOS INVENTAM A FILOSOFIA


A filosofia tem uma história de mais de dois mil e quinhentos anos. Nascida na Grécia Antiga, ali se consolidou, tornando-se uma das principais marcas da civilização ocidental. Os gregos, desde os primórdios (por volta de 1500 a. C., com a civilização micênica), se concentraram nas costas do Mar Mediterrâneo, em pequenas e distintas nações, constituindo posteriormente cidades independentes e rivais entre si (as cidades-estado ou pólis). Cada cidade com sua cultura, seus hábitos, sua política. Mesmo assim, foi criada uma comunidade de língua e de religião, o que fez com que se constituíssem em um povo.

Antes do advento (surgimento) da filosofia, os gregos explicavam o mundo ao seu redor através dos mitos. Havia os mitos sobre a origem do mundo, do homem, sobre os fenômenos da natureza, entre muitos outros. Dentro da mitologia grega estavam os deuses, a quem eram atribuídas muitas coisas que aconteciam ou existiam no Universo. Por exemplo, Atenas era a deusa da sabedoria; Afrodite, a deusa da beleza; Poseidon, o deus dos mares e terremotos; Apolo, deus do sol e da verdade...

Com o passar do tempo, entre os séculos VI e V a. C., cresceu a importância das cidades-estado Esparta e Atenas. Esta última desenvolveu muito o comércio e expandiu-se em direção a outras cidades-estado, adquirindo muito poder. Atenas criou a democracia direta, sistema político em que todos os cidadãos podiam participar, e foi palco para o surgimento das artes, das tragédias, das comédias e, o que mais nos interessa, da filosofia.

Podemos afirmar então que a filosofia surgiu na Grécia no momento em que as cidades começaram a crescer, a vida em sociedade se intensificou, o comércio se desenvolveu, surgiu a moeda como forma de troca, apareceu a escrita alfabética, o calendário, e a política floresceu.

Os homens passaram a necessitar de respostas para organizar aquela nova vida social e os mitos não foram mais capazes de explicar o mundo. Além disso, os filósofos antigos passaram a acreditar que era impossível solucionar alguma questão a partir dos sentidos (tato, olfato, visão, audição, paladar), pois cada um tem sensações diferentes, nem através dos sentimentos (amor, apego, ira), pois eles são instáveis, e muito menos pelas opiniões (chamadas também de doxas), já que podem mudar a qualquer momento. Os gregos, por isso, desejaram criar uma forma de conhecimento que fosse válida para todos, em qualquer tempo e em qualquer sociedade, ou seja, um conhecimento universal, neutro, objetivo e imutável, baseado em algo que pertence a qualquer ser humano: a razão. Assim, a visão racional começou a predominar e servir de base para perguntas como: qual a origem do mundo? O que são os fenômenos da natureza? O que é o homem?

Os primeiros nomes da filosofia são os de Tales de Mileto, Heráclito, Anaximandro, Anaxágoras, Xenófanes, Parmênides e Demócrito, a quem estudaremos posteriormente. Também podemos mencionar os três maiores representantes da filosofia grega: Sócrates, Platão e Aristóteles, dos quais falaremos adiante.


SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES


Sócrates foi um filósofo ateniense nascido em 469 a.C. e morto aos setenta anos, em 399 a. C. Seu pensamento é muito importante para o nascimento da filosofia, influenciando-a até os dias de hoje. Ele nunca deixou nada escrito, motivo pelo qual só conhecemos suas idéias através dos textos de seu mais importante discípulo e seguidor: o filósofo Platão.

O grego Sócrates desenvolveu o método da “maiêutica”, que quer dizer o “parto de idéias”. Ele fazia os jovens atenienses duvidarem de tudo aquilo que pensavam que sabiam para, a partir de então, fazê-los criar uma nova idéia vinda de dentro deles próprios. Isso era a “maiêutica”. A célebre expressão “conhece-te a ti mesmo” significa, então, a busca de uma verdade na razão de cada um de nós, o que nos faz refletir sobre as informações que nos são passadas e não apenas aceitá-las como se fossem verdades. Assim, era na filosofia, no pensamento racional, que estava a busca pela verdade. Ou ainda mais: o filósofo era aquele que buscava racionalmente a verdade.

Outra frase famosa de Sócrates é a “só sei que nada sei”. Segundo ele, reconhecer nossa própria ignorância era o primeiro e mais importante passo para a busca do conhecimento. Somente se nos livrássemos dos dogmas (crenças fechadas, sem explicações) poderíamos nos questionar sobre o mundo e, assim, aprender sobre ele. Sócrates afirmava que as pessoas deviam chegar à essência de todas as coisas (o que faz delas o que são), e não apenas no conhecimento superficial sobre elas. Assim, ele se perguntava: qual é a essência da justiça? Qual é a essência da virtude? Qual é a essência do bem?

O grego nunca buscou para si riqueza material, pois considerava que o importante da vida era o auto-desenvolvimento e a busca pelas virtudes. Há uma suposta estória de que, certa vez, Sócrates passou horas, descalço, sobre a neve, “filosofando” sobre tal fenômeno da natureza.

Sócrates foi incompreendido em sua sociedade e acusado de “corromper” a juventude, que passou a questionar os mitos e as explicações mágicas do mundo para fazer uso da razão. O filósofo passou por um julgamento e foi condenado, o que o obrigou a beber cicuta (veneno) e provocou sua morte.

O filósofo Platão, por sua vez, compartilhava muitas ideias com seu mestre Sócrates. Porém, acreditava que o filósofo não era aquele que buscava a verdade, mas sim aquele que encontrava a verdade, também por meio da razão. Para Platão, a verdade não era subjetiva (não vinha de dentro dos homens), e sim objetiva, ou seja, estava fora dos seres humanos e simplesmente existia como tal na realidade. A tarefa do homem era conhecer racionalmente essa realidade para alcançar, enfim, a verdade.

Tanto Platão quanto Sócrates pensavam que só os filósofos poderiam fazer o bem e, portanto, apenas eles seriam indicados para se encarregar da política. Platão afirmava que a tarefa dos políticos era colocar em prática a verdade alcançada com a sabedoria. O “mito da caverna”, escrito por ele, é importante para ilustrar essa ideia. O homem que saiu da caverna seria aquele que encontrou a verdade e precisou colocá-la em prática.

Platão desenvolveu ainda a ideia da existência de um mundo ideal, racional, que transcendia (ia além) inteiramente o mundo empírico (que experimentamos) e material em que vivemos. As idéias não seriam formas abstratas (sem existência fora da mente) do pensamento, mas sim realidades a serem conhecidas, objetivas, das quais tiraríamos cópias imperfeitas para criar nosso mundo material. Por exemplo: uma árvore que vemos em nossa frente, tocamos, cheiramos, sentimos, seria uma cópia imperfeita de uma árvore existente no mundo das ideias. A árvore ideal será sempre uma árvore, enquanto a árvore que vemos pode ser de vários tamanhos, formas, enfim, totalmente mutável. Desse modo, haveria dois mundos: um deles eterno e imutável, o mundo inteligível ideal e o mundo material que percebemos através dos nossos sentidos, o mundo sensível.

Falaremos, por último, do mais aplicado aluno de Platão, considerado por ele o maior leitor da Grécia: o grego Aristóteles. Este seguiu Platão por mais de vinte anos e, quando morreu seu mestre, fundou o liceu, uma espécie de escola ao ar livre, onde criou seu próprio pensamento filosófico.

Aristóteles discordava de Platão quanto à existência de dois mundos, um sensível e outro inteligível. Para o jovem discípulo, existia apenas um mundo, o sensível, este em que vivemos, apreensível pelos nossos sentidos, pela nossa experiência. A tarefa do filósofo era a de conhecer a essência imutável das coisas, através da razão, a partir dos sentidos. Aristóteles propunha uma observação incessante da natureza e a adoção de um rigoroso método que permitisse ao homem conhecer o mundo.

Ele foi o fundador da lógica, tão importante em nosso mundo contemporâneo e base de várias ciências, entre elas a física e a matemática. Outro assunto de que Aristóteles muito se ocupou foi a política. Para o pensador, “o homem é um animal político”, o que significa que a natureza dos homens faz com que se relacionem de forma a alcançar um bem no espaço da cidade, da polis (de onde deriva o nome político). Aristóteles morreu em 322 a.C.

domingo, 18 de abril de 2010

Mas qual a utilidade da Filosofia?

Mas Qual a Utilidade da Filosofia?


Sempre que procuramos querer saber o valor e a utilidade de alguma coisa em nossa vida é normal que olhemos para esta coisa tentando nos convencermos sobre o modo como a usamos em nosso dia-a-dia. Ou seja, se estamos olhando para um sapato logo pensamos que ele é muito importante para nós porque ajudará a manter nossos pés secos, confortáveis, sem a aspereza do contato com o chão, por exemplo. O que queremos de um sapato é que tenha uma utilidade para a nossa vida e que ele atenda às nossas necessidades. Por isto que não deixamos de comprá-lo e utilizá-lo como um dos principais assessórios de nossa vida.
Este mesmo pensamento nós teremos para quase todas as coisas que estão à nossa volta. As roupas, a televisão, o computador, o relógio, o copo, os talheres do jantar, os livros, o celular, a geladeira, o sabonete, enfim, se algo apresenta uma potencialidade a nos satisfazer em nossas necessidades, dizemos que esta coisa tem um valor para a nossa vida e é útil.
Contudo, existem outras coisas no mundo que são úteis. Porém não estão no mundo para satisfazerem nossas necessidades diretas como o sapato ou o relógio.
É o caso do conhecimento. Quando um cientista descobre maneiras diferentes de fazer em laboratório cheiros diversos aos que conhecemos, não reconhecemos a utilidade destes cheiros. Mas quando o perfumista faz maravilhosos perfumes, cremes e sabonetes que estarão nas nossas casas, passamos a reconhecer nestes produtos sua utilidade e a utilidade da ciência. Da mesma forma acontece com a pasta de dentes, com as sopas instantâneas, com os sucos de saquinhos, entre outros, que são consumidos por todos em larga escala.
Então, quando estamos estudando matemática, física, química, geografia, língua portuguesa, inglês, etc, conseguimos perceber a utilidade destes conhecimentos para as nossas necessidades: a matemática na hora de fazermos compras e somarmos o valor dos produtos e o dinheiro que temos ao chegarmos no caixa; a física quando formos calcular a distância de um local ao outro e o tempo que gastaremos para percorrê-lo; a química quando ocorrer reações ao jogarmos água sobre o óleo quente na hora de fazermos o arroz; a geografia quando quisermos conhecer o espaço em que estamos situados; a língua portuguesa para entendermos um ao outro e para assistirmos televisão, ler um livro, ver jornais; o inglês para entendermos algumas palavras de filmes legendados.
Mas dentre todas estas utilidades dos conhecimentos qual seria a utilidade da Filosofia?
Bem, agora a coisa fica um pouco mais complicada. Pois se colocarmos cinco filósofos e fizermos esta pergunta a eles, com certeza surgirão cinco respostas diferentes do que seja a utilidade da filosofia.
Contudo, entre todas as respostas possíveis para entendermos qual a utilidade da filosofia uma ecoará em todas as palavras dos filósofos: a filosofia é útil porque faz os seres humanos pensarem, conhecerem as palavras e se libertarem dos conceitos que os oprimem.
O Filósofo grego Pitágoras (Séc. VI a.C.) disse certa vez que o filósofo (Philos = amante + Sophia = sabedoria) é o amante do saber e a Filosofia a busca amorosa pelo saber.
Portanto, como bem disse a Professora, Filósofa e Doutora em Filosofia da USP, Marilena Chauí:
Qual será, então , a utilidade da filosofia?
Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil;, se não se deixar guiar pela submissão às idéias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da historia for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa pratica que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes(CHAUÍ, 2004, P.24).

A Filosofia, portanto, tem muita importância e é muito útil para a nossa vida, uma vez que é ela que possibilitará que nós tenhamos um novo olhar para a realidade. Ela possibilitará que nós percebamos a utilidade de todas as coisas à nossa volta. Pois a Filosofia nos fará ter uma visão analítco-crítico-reflexiva sobre nós mesmos, sobre as coisas e sobre o mundo a nossa volta.

Octavio Silvério Neto

A atitude filosófica na vida

1. A ATITUDE FILOSÓFICA NA VIDA:


A Filosofia está presente na vida de todos. Costumamos dizer que ela nasceu no mundo ocidental com os antigos povos gregos, embora possamos afirmar que está presente na história do ser humano desde o aparecimento das primeiras civilizações.
Em todos os momentos da vida no planeta, os homens demonstraram interesse em refletir sobre os fenômenos, naturais ou não, que faziam parte de sua existência e de sua sobrevivência, como a chuva, o sol, o fogo, os relacionamentos interpessoais e os sentimentos. Graças à observação destes fenômenos vivenciados durante milhares de anos, hoje podemos questionar, pensar e repensar nossas crenças e valores para, com isso, mudarmos de atitude frente nosso cotidiano.
Porém, toda mudança de comportamento exige reflexão e sacrifício, já que quando temos um pensamento ou atitude divergente dos outros, ou quando somos contrariados em nossas verdades, geralmente entramos em crise. Algumas pessoas, receosas de não suportarem essas crises, preferem “fazer de conta” que não há nenhum problema e vão levando a sua vida “numa boa”.
Neste momento, colocamos a seguinte questão: sou livre para fazer o que quero segundo minhas vontades e verdades ou minhas vontades e verdades dependem do outro? E mais, o que penso ser vontade? O que é liberdade? O que posso considerar como justo? Quando realmente estarei pronto para mudar significativamente minhas atitudes?
Para respondermos a estas perguntas, precisamos fazer uma profunda reflexão que nos permita observar e perceber o mundo para além daquele já conhecido, o chamado mundo aparente, como diria Platão (428/27 -347 a.C.). Pois somente o homem repensando suas vontades e verdades será capaz de mudar de atitude frente aos problemas colocados pelo cotidiano da vida. E, somente aquele homem que não se contenta com as crenças e opiniões preestabelecidas pela sociedade, pela mídia, ciência, política e cultura será capaz de elaborar um olhar crítico e criterioso sobre algo, e ir em direção à atitude filosófica.
Contudo, para fazermos esse movimento de olhar em diversas direções é necessário produzir um tipo de reflexão que nos predisponha a mergulhar de maneira profunda e apaixonada no conhecimento que queremos ter da realidade a nossa volta e, principalmente, do quanto queremos conhecer de nós mesmos. Como dizia Sócrates (470 – 399 a.C), “Conhece-te a ti mesmo”. Este é, sem dúvidas, o primeiro passo para adotarmos a atitude filosófica em nossas vidas.
Luciano Tavares Torres